terça-feira, 5 de novembro de 2013

Centrais usam reunião com Mantega para apresentar lista de reivindicações

O governo chamou as centrais sindicais para negociar a redução dos gastos com abono salarial e seguro-desemprego numa tentativa de reduzir o déficit nas contas públicas. As centrais, por sua vez, decidiram aproveitar esse momento de aproximação, raro na administração Dilma Rousseff, para apresentar outras demandas.
Ao sair ontem de reunião de mais de duas horas com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, em São Paulo, o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas, se dirigiu aos jornalistas para mandar um recado: "Fazia tempo que o governo não chamava os sindicatos para ouvi-los. Mas não discutiremos apenas uma ou outra questão pontual", disse, junto a outros sindicalistas, antes mesmo de Mantega comentar os resultados do encontro. 
O ministro chamou as centrais sindicais com o objetivo de discutir medidas para conter os gastos com o seguro-desemprego e o abono salarial que, segundo Mantega, podem representar uma despesa de R$ 47 bilhões esse ano. Se confirmado, o valor será 8% maior do que o que foi gasto no ano passado.
Segundo o presidente da CUT, uma nova rodada de negociações foi marcada para 7 de novembro, sendo que a pauta deverá incluir, além do seguro-desemprego e do abono salarial, temas como dispensa sem justa causa, salário mínimo e revisão da tabela do imposto de renda. "A discussão do seguro-desemprego e do abono não podem ser isoladas. Queremos debater todo o conjunto de proteção ao trabalhador", disse. 
Miguel Torres, presidente da Força Sindical, afirmou que o governo não pode dificultar o acesso e diminuir os valores das parcelas pagas do seguro-desemprego e defendeu a ampliação do benefício. Também estiveram presentes representantes da Central dos Trabalhadores e Trabalhadores do Brasil (CTB), da Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB), da União Geral de Trabalhadores (UGT) e da Nova Central Sindical dos Trabalhadores (NSCT).
Segundo Márcio Holland, secretário de Política Econômica, que também participou da reunião, as propostas que devem ser apresentadas pelas sindicais envolvem melhoria de alguns termos que tem preocupado a Fazenda, como redução da rotatividade da mão de obra, aumento da qualificação dos trabalhadores e intensificação do trabalho de intermediação do Site Nacional de Empregos (Sine). 
Em relação a outras propostas para reduzir o pagamento do abono salarial, como elevar o período mínimo de trabalho para obter o benefício, Holland se limitou a afirmar "que o assunto está avançando". O secretário disse que Mantega não estará presente à reunião do dia 7. 
Mantega afirmou após a reunião que o governo está empenhado em avaliar se o aumento dos gastos com seguro-desemprego e abono salarial está relacionado à rotatividade e a possíveis fraudes praticadas por trabalhadores e empresas. Ele destacou que o governo está preocupado em conter gastos. "Precisamos ver se há excesso de rotatividade em uma economia que gira em pleno emprego." 
O encontro com os representantes das centrais sindicais foi o primeiro passo para a identificação de problemas, disse Mantega. "Faremos um trabalho conjunto com as centrais sindicais para nos aprofundar nessa questão. " Segundo o ministro, medidas serão tomadas para garantir o nível de emprego e o crescimento da massa salarial. 
Para Mantega, as fraudes existentes no sistema de seguro-desemprego brasileiro são realizadas por iniciativa do empregador e não do trabalhador. "Quem tem a iniciativa é o empregador, que propõe ao trabalhador que seja demitido e passe a receber o seguro para seguir empregado, mas de maneira informal e com um salário menor", disse. 
O ministro também ressaltou que o governo vai cumprir as obrigações com os fundos constitucionais, como Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). De acordo com a CUT, o FAT deixou de receber R$ 64,9 bilhões nos últimos quatro anos devido a desonerações e à Desvinculação de Receitas da União (DRU), que permite que até 20% das receitas da União possam ser desvinculadas das destinações fixadas por lei. 
Pelos cálculos da entidade, em 2013 o FAT deixará de receber R$ 19,4 bilhões, sendo R$ 10,4 bilhões referentes à DRU e R$ 9 bilhões de renúncias fiscais. Esses dois fatores, apontados pela CUT como as principais fontes de perdas de recursos do FAT nos últimos anos, farão com que em 2014 o fundo deixe de receber R$ 22,6 bilhões, sendo R$ 11 bilhões devido à DRU e R$ 11,6 bilhões decorrentes de desonerações. 
Questionado sobre o tema, Mantega disse não ter detalhes sobre a situação. "Mas seguramente o governo continuará cumprindo suas obrigações com os fundos constitucionais. O Codefat [Conselho Deliberativo do FAT] vai seguir cumprindo suas tarefas", disse o ministro.
Fonte: Valor


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